Tamanho da fonte: 

As oficinas constituem atividades grupais de socialização, expressão e inserção social, as quais englobam uma diversidade de práticas, dentre elas a escrita. No campo da saúde mental e atenção psicossocial, a oficina de escrita, considerada terapêutica, se configura numa nova lógica de cuidado capaz de possibilitar o resgate da cidadania e autonomia do usuário com transtorno mental. Ademais, reconhece-se que a oficina terapêutica de escrita constitui uma importante estratégia terapêutica de cuidado atual desenvolvida pelos profissionais (enfermeiros, médicos, psicólogos, etc.) nos serviços substitutivos em saúde mental. Refletir sobre a oficina terapêutica de escrita como estratégia terapêutica desenvolvida pelo enfermeiro no processo de cuidar em saúde mental. Estudo de caso, de abordagem humanista, desenvolvido a partir de vivências de enfermeiros no Centro de Atenção Psicossocial II, localizado no município de Natal/RN. A oficina terapêutica de escrita iniciou-se no ano de 1996, e, a partir de 2003, passou a ser coordenada por enfermeiros. As oficinas acontecem semanalmente e sob dois momentos distintos: no primeiro momento os usuários escrevem livremente sobre o que lhes ocorrer naquele momento, e, no segundo momento, os usuários leem o material produzido, sendo, ao final, digitalizado e arquivado em um banco de dados. Observa-se durante a realização das oficinas que os usuários com transtornos mentais (re)significaram suas experiências, de uma forma poética, melancólica e ambígua, na medida em que exteriorizaram coisas não-dizíveis, silenciadas, coerentes, incoerentes numa linguagem diversa e até por ausência de palavras para dizer. Desta forma, revelaram as dimensões intersubjetivas do seu cotidiano num processo (re)criativo, portanto uma arte de si mesmo e de sua história. Os textos produzidos no contexto da oficina de escrita funcionam para os usuários como uma montagem escrita da expressão oral. Considera-se a oficina de escrita como um importante recurso estratégico terapêutico desenvolvido pelo enfermeiro em saúde mental, pois possibilita o maior entrelaçamento do conhecimento sobre si, o adoecimento, o ajustamento na vida, adesão ao tratamento, entre outros, e fornece pistas aos profissionais para prováveis ajustes na agenda do sujeito singular. Nesta perspectiva, consolida-se a formação de laços afetivos entre ambos, reinventado o processo de cuidar pautado na atenção psicossocial.

enfermagem;saúde mental; conhecimento.