Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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ANÁLISE DO PODER DA BIOMEDICINA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO USO DE ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS
Clayre Anne de Araujo Aguiar, Marilyn Kay Nations, Diane Sousa Sales, Anna Yaskara Cavalcante Carvalho, Antonio Fontes de Aguiar Neto

Resumo


O estudo tem como objetivo analisar a contribuição da prática biomédica hegemônica no uso de ansiolíticos e antidepressivos. Estudo descritivo, qualitativo, com 30 clientes, sendo 24 do sexo feminino e 6 do sexo masculino. As falas foram agrupadas em categorias e analisadas enfatizando a dicotomia entre disease e illness para uma melhor compreensão das “maneiras de pensar e agir” dessa clientela frente aos seus problemas de saúde. Percebe-se nos depoimentos o foco central da doença, com sua complexidade de sintomas físicos influenciando nas condutas médicas (a disease na formação médica). A clientela muitas vezes desconhece o medicamento que utilizam e tornam usuários crônicos da pílula que segundo eles amortizam seu sofrimento humano, a sua realidade de pobreza, desigualdade social, vulnerabilidade vividas, resolvendo sua maior queixa: a insônia. Estes procuram o profissional de saúde para compartilhar suas angústias, a solidão vivida e conflitos familiares, mas são recebidos com uma receita médica. E encontram no comprimido a sensação de paz almejada, conseguindo encobrir a miséria social vivida. Esta relação médico-paciente sob a ótica paternalista é referida por Kleinman (1988) como modelo explicativo no cuidado aos pacientes. A illness transforma-se em disease e a pessoa doente em paciente subordinado ao médico, portanto de sujeito a objeto. O sofrimento psíquico do paciente em uso dos medicamentos ansiolíticos e antidepressivos é subvalorizado pelo modelo biomédico. Dessa forma, a illness, entendida como a enfermidade é vivenciada e a experiência subjetiva do mal-estar é sentida pelo paciente não é enfocada por esses profissionais. Há ainda o predomínio do comportamento paternalista da medicina burocrática que é entendida e valorizada em ambos os lados: de quem executa e recebe. Romper essas condutas é algo muito difícil e requer atravessar uma barreira cultural de décadas e que ainda alimenta a sociedade médica. Os profissionais de saúde formados no modelo biomédico são preparados para lidar com alterações físicas e biológicas no corpo humano, subvalorizando a complexidade multidimensional do contexto do adoecimento. Para tanto, a comunicação e escuta no encontro clínico são requisitos essenciais ao estabelecimento da confiança e vínculo. Quando damos voz e vez a eles reconhecemos suas competências, valorizando-os e promovendo a nossa competência ética, profissional e humana, além de contribuir na resolução de seus conflitos.

Palavras-chave


Psicotrópicos; Relações médico paciente;Sofrimento psíquico.

Referências


KLEINMAN, A. The illness narratives: suffering, healing & the human condition. New York: Basic Books; 1988.
LIRA, Geison Vasconcelos, KATRIB, Ana Maria E NATIONS, Marilyn K. A narrativa na pesquisa social em saúde: perspectiva e método. Revista Brasileira em Promoção da Saúde. Fortaleza, 16 (1/2), 2003.
UCHOA, Elizabeth e VIDAL, Jean Michel. Antropologia médica: Elementos Conceituais e Metodológicos para uma Abordagem da Saúde e da Doença. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504, Oct/Dec, 1994.