Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A NECESSÁRIA DESMISTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E A DELINQUÊNCIA: PROBLEMATIZAÇÕES PSICANALÍTICAS
Bruna Lopes Martins, Edna Linhares Garcia, Emanueli Paludo, Giórgia Saldanha Saldanha, Alíssia Gressler Dornelles, Bruna Rocha de Araújo, Dulce Grasel Zacharias

Resumo


Este trabalho problematiza a relação estabelecida entre uso de drogas, delinquência e desenvolvimento emocional do sujeito, através da análise de dados da Pesquisa “A realidade do crack em Santa Cruz do Sul”, realizada desde 2010 na Universidade de Santa Cruz do Sul/UNISC e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Apresenta alguns dados emergentes das entrevistas realizadas, referentes aos usuários em conflito com a lei. A análise possibilitou a problematização de discursos (re)produzidos em nossa sociedade sobre a relação entre drogas e delinquência, apontando para a necessidade de ampliação da percepção acerca dos processos de desenvolvimento emocional de cada sujeito, perpassado por conflitos presentes nos ambientes psico-familiar e social. Ressalta-se, principalmente, o dado recorrente que associa uso de drogas e a ocupação do lugar de delinquente. O processo de coleta de dados da pesquisa foi realizado por meio de entrevista semiestruturada, que alcançou 100 pessoas que usam crack e 100 familiares de sujeitos usuários de crack. A alta porcentagem do envolvimento desses sujeitos com a polícia requer uma perspectiva de análise complexa, sob o risco de reforçar a relação simplista entre droga e delinquência. Propõe-se uma análise fundamentada na concepção Winnicotiana, visto que o desenvolvimento emocional desses sujeitos é, muitas vezes, atravessado por privação familiar, social e de suportes continentes para uma existência mais promissora e saudável. Estas problematizações favorecem repensar o uso abusivo de drogas e suas motivações, ainda pouco exploradas e latentes, de modo a intervir nesta reprodução discursiva que finda por reforçar estereótipos prejudiciais ao sujeito e à sociedade. Aponta-se a hipótese de que, entre outros fatores determinantes desta condição subjetiva, muitos sujeitos se tornaram desejantes inconscientes de uma afetividade, possivelmente falha ao longo do desenvolvimento, e que a delinquência expressaria uma demanda de cuidado, amor e continência. Nesta perspectiva, é possível ressaltar a importância do investimento afetivo não apenas durante um primeiro tempo do desenvolvimento emocional, mas a permanência deste enlace ao longo de outras fases cruciais da vida.

Palavras-chave


Cuidado; psicanálise;uso abusivo de drogas

Referências


WINNICOTT, D.W. Delinquência e Privação. São Paulo: Martins fontes, 1987. WINNICOTT, Donald W. A família e o desenvolvimento individual Ed. Martins fontes, 1965. WINNICOTT, Donald W. O Ambiente e os Processos de Maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. WINNICOTT, Donald W. O Brincar e a Realidade. São Paulo: Ed. Imago, 1975.