Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE, PRODUÇÃO DE EXISTÊNCIA E CUIDADO: UMA HISTÓRIA INTERESSANTE ONDE A RACIONALIDADE MÉDICA NÃO FOI SUFICIENTE PARA DEFENDER A VIDA.
Érica Ferrazzoli Devienne Leite, Rosangela Aparecida Souza da Silva, Roseli Nemésio de Barros, Ligia Maria Torres Luis, Raquel Rebecca da Silveira, Elisangela Matsusato Shirahige, Mara Cleonice Alves, Marinês Pessoa dos Santos, Claudia Marinho da Silva, Maria Lucimar Machado, Regina Célia Pereira Oselieri, Weridiane da Silva C. Andrade, Jucelia Inocêncio da Cruz, Patricia Rodrigues Moura, Marilaine Cristina de Lima, Maria José da Silva, Lucimara Mortari, Anne Pavlowa C Ruela, Guilhermina Quaresma Câmara

Resumo


É comum ouvir em reuniões de equipes de saúde relatos de casos difíceis de pacientes poliqueixosos com vários diagnósticos, refratários aos tratamentos propostos e que a equipe não sabe mais o que fazer para restabelecê-los em sua saúde física, psíquica e em seu bem estar. Situação vivenciada também pela equipe de saúde da UBS – ESF de Cosmópolis- SP onde o caso, descrito a seguir, evoluiu de forma surpreendente diante do desenvolvimento de uma atividade na UBS. Paciente de 62 anos, diabética, hipertensa, depressiva, com problema renal, dificuldade de andar e histórico de várias internações psiquiátricas e entradas no PS devido a crises hipertensivas e glicemia alta, frequentadora assídua da UBS e do grupo de hipertensos e diabéticos, sempre demandou muita escuta, cuidado e paciência da equipe que, apesar de seguir todas as condutas protocolares, ter todos os recursos e medicamentos necessários disponíveis para seu cuidado, nunca conseguiu controlar as recorrentes intercorrências em relação à sua saúde. Filha mais velha de sete irmãos, não constituiu família própria, vivendo sempre em função da mãe, superprotetora, que sempre limitou sua autonomia. Em 2012, a convite da Coordenadora, começou a ensinar um grupo de mulheres a pintar panos de prato na UBS. Desde então a equipe percebeu melhoras radicais em seu quadro. A hipertensão e diabetes foram controladas e a relação com a UBS mudou muito de foco. Hoje se considera parte da equipe se apresentando como profª do grupo de pintura em tecido da UBS. A poliqueixosa e descompensada desapareceu. Caminha até 4 km com grupo. Quando questionada sobre ensinar a pintar, mostra suas produções e retorna com o questionamento de como puderam achar que era louca e interná-la? Como puderam não vê-la? Isto reforça que necessidades de saúde não se resumem ao que a racionalidade médica estabelece. Para defender a vida e ampliar a potência de vida das pessoas é necessário e importante que as equipes se questionem sobre que necessidades de saúde têm as pessoas que buscam as unidades de saúde e se há algo mais que poderia ser captado e trabalhado para a produção do cuidado para além da demanda instituída pela racionalidade médica¹. A experiência vivida pela paciente ampliou sua potência de vida mudando radicalmente sua saúde e forma de andar a vida. É preciso entender que saúde é um assunto da vida que tem muito a ver com modos de estar no mundo². Muito além do que a racionalidade médica pode oferecer.

Palavras-chave


Cuidado;Produção de Existências;Necessidades de saúde

Referências


1- CECÍLIO,L.C.O.. Sobre as necessidades de saúde. 2012. Texto escrito a partir de duas produções anteriores do autor, enriquecida com discussões com alunos e trabalhaores de saúde: 1 CECÌLIO, L.C.O.. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e equidade em saúde. In: Roseni Pinheiro;Ruben Araújo de Mattos. (Org).Os sentidos da integralidade. Rio de Janeiro: UERJ,IMS;ABRASCO,2001,p.113-126; 2- CECÍLIO,L.C.O.;MATSMUTO,N.F.. Uma taxonomia operacional de saúde. In: Roseni Pinheiro; Ruben Araújo de Mattos. (Org). Gestão em redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio de Janeiro: CEPESC,2006,p.35-39.

2-FEUERWERKER,L.C.M.. Cuidar em saúde. Coleção VER-SUS/Brasil. 2013.p.43.