Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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DESINSTITUCIONALIZAÇÃO: CONCEITO OPERADOR DO CUIDADO NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS EM SAÚDE MENTAL
Flávia Fasciotti Macedo Azevedo, Maria Paula Cerqueira Gomes, Rita de Cássia Ramos Louzada, Leila Vianna Reis, Jose Carlos Lima Campos

Resumo


Introdução: A desinstitucionalização é um conceito trabalhado por vários autores, entre eles: Rotelli et al. (2001) e Basaglia (1985) e surge como direção de trabalho a partir da proposta de redirecionamento da assistência psiquiátrica, concretizando o processo de Reforma Psiquiátrica brasileira, instituído a partir da Lei 10.216 (BRASIL, 2001). Ela tem como objetivo principal a reinserção de pacientes há muito institucionalizados, vitimas dos graves efeitos de uma forma de tratamento centrada na reclusão e seqüestro social, e se baseia em práticas de cuidado que visam o resgate e reconstrução de laços familiares e sociais, construindo possibilidades concretas de saída, dessa clientela, do hospital psiquiátrico. Caracterização do Problema: Apresentamos aqui o conceito de desinstitucionalização tomando-o de forma ampliada e enquanto um operador clínico das ações de cuidado, que junto com os conceitos de linha de cuidado e de rede e território, sustentam a direção clínica e assistencial dos alunos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde mental do IPUB/UFRJ ajudando a orientar e a operar a realidade da clínica conforme sustentado por Merhy (1998; 2002; 2007). Estes conceitos são extraídos do Projeto Político Pedagógico (PPP) (IPUB, 2010) e visam à consolidação da direção ética, clínica e política, e pensados no PPP como elementos transdisciplinares, a serem operados no encontro com o sujeito, atravessando as especialidades e as fragmentações profissionais, estes operadores do cuidado também funcionam como intercessores, fazendo liga, articulando saberes e práticas diferentes (AZEVEDO, 2013). Descrição da Experiência: Considerando as enfermarias de pacientes agudos e crônicos como um dos cenários de prática do curso, o trabalho de recuperação dos laços e vínculos anteriores ao evento da internação, de forma a resgatá-los e reconstruí-los se coloca como parte fundamental do trabalho do residente quando membro de uma equipe de trabalho multiprofissional. Resgatar os laços familiares, comunitários e de tratamento deve ser uma direção de trabalho desde a chegada dos pacientes na enfermaria. É nesse processo de reconstrução que o conceito de desinstitucionalização passa a atuar como operador do cuidado. Efeitos alcançados e Recomendações: Mais do que a retirada de pessoas com longos períodos de internação dos hospitais psiquiátricos, este conceito ganha nova amplitude ao estar colocado para todos os pacientes como direção de trabalho, no sentido de acompanhar sujeitos em seus sofrimentos, apostando na possibilidade de construção de novas saídas, de formas inovadoras de estar no mundo, em um processo de desinstitucionalização dos espaços, das formas de tratar, de entendimento sobre a loucura, a desinstitucionalização de si mesmo.

Palavras-chave


Desinstitucionalização; Formação em saúde mental; Cuidado em saúde

Referências


Referência Bibliográfica:

AZEVEDO, F. F. M. Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Uma reflexão sobre ensino, transmissão e formação em serviço. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Centro de Ciências da Saúde, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.

IPUB - Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Projeto de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Mental. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.

MERHY, E.E. A Perda da dimensão cuidadora na produção da saúde: uma discussão do

modelo assistencial e da intervenção no seu modo de trabalhar a assistência. 1998. Disponível em: <http://www.uff.br/saudecoletiva/professores/merhy/capítulos-10.pdf>.

MERHY, E.E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec 2002.

MERHY, E.E. Reforma psiquiátrica no cotidiano: multiplicidades no cuidado e por uma ética cidadã. Manejo das ações relacionais. In: MERHY, E.E. (Org.). A reforma psiquiátrica no cotidiano II. São Paulo: Hucitec, 2007.

ROTELLI, F. et al. Desinstitucionalização. São Paulo: Editora Hucitec, 2001.