Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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CUIDADO E NORMALIZAÇÃO DA VIDA NA ESTRATÉGIA DE ESF, VITÓRIA-ES
Thiago Dias Sarti, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Resumo


A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é o principal modelo de organização da Atenção Básica no Brasil, cuja expansão trouxe significativos avanços para a estruturação dos sistemas de saúde locais. Mas diversos são os problemas que persistem na efetivação na prestação de cuidados integrais. Um desafio é melhorar as relações das equipes de saúde com a população, criando maiores oportunidades de ampliação das ações de saúde e criação de vínculo. Propõe-se analisar as formas como são construídas cotidianamente as relações entre a ESF e pessoas que convivem com enfermidades crônicas. Trata-se de um estudo de caso de cunho etnográfico envolvendo as práticas das equipes de saúde e o cotidiano de usuários que receberam diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 (DM). Aqui se opta por apresentar alguns resultados parciais da pesquisa. O cenário do estudo é uma USF localizada na Região de Maruípe, Vitória/ES, composta por três equipes de saúde que atendem aproximadamente doze mil pessoas. O presente relato se utiliza dos diários de campo produzidos durante um ano de observação do cotidiano do serviço e de uma pessoa acompanhada por uma das equipes de saúde. As equipes acompanhadas organizam seus processos de trabalho com base na programação e vigilância em saúde. No que se refere ao acompanhamento de pessoas com diagnóstico de DM, cada pessoa é inserida em um grupo de indivíduos que terá uma consulta médica e de enfermagem a cada três meses, onde a adesão à prescrição será monitorada e reforçada de uma forma simplificada, padronizada e desconectada da vida. Além disso, são produzidas inúmeras planilhas de dados dos usuários acompanhados que subsidiarão o planejamento das equipes. Outros aspectos da vida não surgem como dispositivos de orientação da clínica e do cuidado, exceto em alguns casos onde um dos profissionais, levanta questões que estão interferindo de forma negativa no, momento no qual os profissionais articulam ações multiprofissionais e ampliadas que extrapolam a biomedicina e potencializam o cuidado. O acompanhamento do cotidiano de uma pessoa com diabetes mellitus tipo 2 com múltiplas complicações da doença cadastrada em uma das equipes mostrou que as ações programáticas executadas pelos profissionais pouco incidiam sobre as questões que a cada momento interferiam diretamente na qualidade de vida e no manejo da condição de saúde, como por exemplo crises familiares e financeiras, dificuldades singulares de adesão ao tratamento medicamentos e dialítico, enfrentamento do medo de morrer precocemente e a sensação de perda de autonomia e potência no modo de gerir a própria vida e de ruptura biográfica. Em síntese, os processos de trabalho da ESF transitam entre ações programáticas e burocráticas e processos dialógicos ampliados de cuidado, mas que conversam pouco com os desafios cotidianos da vida das pessoas com condição crônica, reduzindo a potência do cuidado em produzir autonomia e vida.

Palavras-chave


Saúde da Família; Diabetes Mellitus; Cuidado