Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A FORMAÇÃO NO PLANO DO CUIDADO: INTERSEÇÕES, ENCONTROS E AFETOS
Leandro Dominguez Barretto

Resumo


Este trabalho é parte das reflexões produzidas em investigação desenvolvida durante o Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana. Ao retornar à prática do Cuidado em Saúde através da inserção como Docente, fui mobilizado por questões referentes à relação entre a Formação em Saúde e a Produção do Cuidado. O Cuidado produzido atualmente nos diversos serviços de saúde, ainda conta com o predomínio dos interesses das instituições e dos profissionais sobre os interesses e necessidades de saúde dos usuários, evidenciado pela hegemonia do saber científico e das padronizações sobre o saber dos indivíduos e comunidades a respeito de si mesmos. A formação dos trabalhadores da saúde não prepara os profissionais para lidar com as singularidades dos indivíduos e os mecanismos que estes encontram para resistir às capturas de suas vidas. Saúde é compreendida como um corpo biológico, psíquico e social funcional, modelo que deve ser seguido por todos. Os desviantes – aqueles que não se encaixam no critério hegemônico de funcionalidade – são anormais e devem ser corrigidos ou reprimidos. Utilizando como “empírico” minhas vivências–experiências no campo do cuidado em saúde, busco um diálogo Intercessor e Cartográfico entre o Eu-Cuidador e o Eu-Docente na análise da Formação no Plano do Cuidado. Este estudo demonstra que um Cuidado produtor de Vida deve estar implicado com a produção e valorização da Diferença existente em cada indivíduo e comunidade. O espaço de encontro e troca entre profissional e usuário guarda em si a potencia de produzir o novo, ao habitar um Território Intercessor, mas ao mesmo tempo também pode matar a diferença ao enquadrar as necessidades e saberes no Território da Repetição, que padroniza, normatiza e exclui a diferença. É necessário construir, na formação em saúde, um paradigma ético–estético da defesa da Vida e de sua multiplicidade, reconhecendo o direito do Outro de decidir sobre si. Esta construção deve se dar a partir das experiências singulares dos encontros intercessores no mundo do cuidado, pois é o Outro que pode nos orientar nesta caminhada.

Palavras-chave


Cuidado em Saúde; Formação em Saúde; Micropolítica

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