Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A educação em saúde como estratégia de cuidado no enfrentamento da violência entre meninas adolescentes
Juliana Freitas Marques, Lilianne Kelly Rocha do Vale, Lycia Maria Vasconcelos Lima

Resumo


Introdução: Este estudo, com enfoque na pesquisa social, revela um trabalho permeado na construção coletiva de conhecimentos voltados à saúde apontadas por meninas adolescentes vítimas de violência. No âmbito da atenção à mulher adolescente vítima da violência, o profissional de saúde é oportunizado a conhecer o contexto de vida das adolescentes que sofrerem a agressão. Partindo do pressuposto de que a adolescente possui uma natureza singular e características próprias, fica evidente a necessidade de o profissional esteja capacitado a realizar a educação em saúde no intuito de compreender suas particularidades, saber mais sobre como a adolescente cuida de sua saúde e poder, juntamente com elas, realizar intervenções efetivas. No enfretamento dessa problemática, viu-se a necessidade desse estudo na efetividade da educação em saúde com meninas vítimas de violência em uma instituição de abrigamento, no intuito de promover a saúde conforme suas necessidades. Objetivos: conhecer as necessidades de saúde das adolescentes vítimas de violência, realizar oficinas educativas, com a participação das adolescentes, conforme as necessidades levantadas; e discutir o impacto das oficinas educativas entre as mesmas. Método: Estudo qualitativo, do tipo pesquisa ação, que utilizou como métodos de coletas: o grupo focal e a técnica da oficina para execução da educação em saúde. As meninas selecionadas apresentavam faixa etária de 12 a 18 anos, com média de 13 participantes, que viviam em uma Instituição Filantrópica no município de Arapiraca/Alagoas. A referida instituição abriga meninas em situações de violência doméstica no município e que ainda não podem ser reintegradas à família ou parentes próximos. Os dados dos grupos focais foram analisados pela técnica de análise de narrativas, na qual se leva em consideração a narrativa da entrevistada em detalhes e de acordo com seu contexto de vida (BAUER; GASKELL, 2002). As oficinas foram analisadas a partir das anotações no diário de campo, do registro manual das falas dos adolescentes e do material produzido na oficina associado com as observações. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal de Alagoas, sob parecer nº 341.950. Resultados: Nos primeiros encontros foram realizados quatro grupos focais para levantar as necessidades de saúde das adolescentes, sendo direcionadas para as temáticas: cuidados com a saúde, adolescência, gravidez na adolescência e DST/AIDS. Após essa etapa, foram planejadas, juntos com as adolescentes, a realização de oficinas educativas, conforme os temas levantados. Para execução das oficinas, foram utilizadas imagens disparadoras em que as adolescentes refletiam criticamente acerca da realidade exposta e as oficinas tornaram-se espaço de discussão sobre as temáticas levantadas sob a percepção das adolescentes. As duas primeiras oficinas foram espaços de discussão sobre o que é saúde na percepção das adolescentes vítimas de violência. Percebeu-se então que representavam com grande referência a constituição da família, mostrando claramente através de desenhos e comentários, a união, o amor, as atividades de lazer desenvolvidas no seio familiar. Ficou clara a carência dessas meninas desamparadas por suas famílias, com limitações na assistência à saúde, com momentos mínimos de lazer, e maiores necessidades de afeto. Na terceira oficina as adolescentes que tinham experiência e/ou vivência com a gravidez expressaram as dificuldades enfrentadas por pais de pouca idade, a solidão que as meninas mulheres sentem ao ter seus namorados distantes de tal situação, o abandono e desprezo dos pais e a culpabilização da sociedade. Assim como afirmam Bouzas e Miranda (2004) trazendo que a gestação nessa faixa etária, mesmo que desejada, consciente ou inconscientemente, na maior parte não é planejada e faz relação com fatores extrínsecos, sendo estes socioculturais e econômicos. A quarta oficina foi uma continuação da terceira e nela a confecção de folhetos educativos de suposta finalidade de uma campanha escolar sobre a conscientização dos agravos da gravidez na adolescência correspondeu às expectativas. Onde embora houvesse recortes de bebês saudáveis e mães satisfeitas com seus filhos, as meninas salientaram os caminhos para se prevenir desse fato, retratando o uso de métodos contraceptivos, desordens no estilo de vida da adolescente, riscos para o binômio mãe-bebê e consequências do aborto. Segundo Gomes et al. (2009), estes são potencializados com a redução do nível de escolaridade, menores oportunidades de emprego e possíveis separações. O que é ser adolescente? Este foi o tema da quinta oficina e aqui, a princípio, as meninas sentiram-se intimidadas em responder nos cartazes em que foram convidadas a construir. O maior impacto nas respostas foi aquele em que as adolescentes remeteram o que se faz ausente em suas vidas: a família. Ser adolescente para a maioria é o amor, o cuidar, o respeito, ajuda e obediência à família. Referenciaram a felicidade, a facilidade em fazer amizades, as paqueras e namoros e prováveis planos de vida, futuros empregos e modo como pretendem viver com constituição de suas próprias famílias. Os sentimentos de refreamento impostos pelos adultos à fase da adolescência também foram bem colocados. Na sexta oficina foi discutida a temática das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) e percebeu-se que, mesmo aquelas que afirmaram já ter estudado sobre essas doenças na escola, não lembravam o que significavam em sua essência. Quanto aos meios de prevenção das DST’s, as adolescentes apresentaram conhecimento sobre os métodos eficazes, sendo que houve certo tumulto nas discussões ao serem questionadas sobre os métodos de evitar gravidez e doenças do sexo ao mesmo tempo. Esta oficina foi realizada com grandes efeitos positivos em seu término, pois como coloca Beserra et al (2008) é no período da adolescência que há, na maioria das vezes, a descoberta do prazer e este é um momento propício para as educações em saúde. Ao final das oficinas, foi discutido, junto com as meninas, o impacto destas, e constatou-se que as oficinas educativas representaram a valorização da adolescente que tinha a oportunidade neste espaço de se colocar com questionamentos e necessidades para a discussão das temáticas escolhidas. O que foi relevante, uma vez que se sentiam envolvidas e interessadas em manifestar suas opiniões. Conclusão: Percebeu-se a carência de informações que as jovens possuíam sobre os diversos aspectos da saúde, sexualidade e autocuidado. Esta pesquisa teve um impacto significativo na vida das adolescentes, uma vez que a Instituição não desenvolve atividades de apoio à assistência de saúde das meninas. Diante disso, o estudo comprovou que as oficinas são estratégias de educação em saúde positivas, na qual envolveu as adolescentes vítimas de violência, possibilitando espaços de escuta, proporcionando às jovens o papel de protagonistas nos cuidados e promoção à saúde.

 


Palavras-chave


Adolescente Institucionalizado; Educação em Saúde; Violência

Referências


BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

BOUZAS, I.; MIRANDA A.T. Gravidez na adolescência. Rev. Adolescência e Saúde. V.1, n.1, março, 2004.

BESERRA, E.P.; PINHEIRO, P.N.C.; BARROSO, M.G.T. Ação educativa na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis: uma investigação a partir das adolescentes. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 set; 12 (3): 522-28.

GOMES, N.P. et al. Enfrentamento da Violência Doméstica contra a Mulher a partir da Interdisciplinaridade e Intersetorialidade. Rev. enferm. UERJ, v. 17, n.1, p.14-7. 2009.