Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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REFLEXÕES SOBRE ATITUDES E PRÁTICAS DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM UMA PERSPECTIVA INTERPROFISSIONAL NO CONTEXTO DE TERRITÓRIOS DE ATUAÇÃO DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE DE FORTALEZA – CE
José Wesley dos Santos Alves, Vera Lucia de Azevedo Dantas

Resumo


Resumo: O Sistema Único de Saúde (SUS), como ordenador da formação de seus trabalhadores, tem por iniciativa os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde. Nesse contexto, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (PRMSFC) de Fortaleza, modalidade de especialização latu sensu em serviço, em atividade desde 2009, tem como objetivo formar profissionais para atuar na Estratégia Saúde da Família (ESF) e nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). A Alimentação e Nutrição (AN) constitui uma das nove áreas estratégicas previstas nas diretrizes do NASF. Um dos eixos estratégicos para as ações dessa área é a realização do diagnóstico alimentar e nutricional da população, com a identificação de áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais, bem como identificação de hábitos alimentares regionais e suas potencialidades para promoção da saúde. Esta tarefa é o que agenda programática da Atenção Primária em Saúde (APS) com relação às ações de AN refere como a realização da Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um sistema de coleta, processamento e análise contínua de dados de uma população, possibilitando um diagnóstico atualizado da situação nutricional, suas tendências temporais e também dos fatores de sua determinação. O SISVAN tem se limitado às variáveis antropométricas, principalmente às crianças menores de 5 anos e sua cobertura geográfica e populacional é restrita à população beneficiária aos programas assistenciais, sem mencionar as dificuldades de capacitação dos profissionais e a falta de apoio político-institucional para a efetiva implantação do sistema no âmbito da APS. Com base nos aspectos descritos e a partir das vivências no programa de residência, surgiram muitas inquietações sobre a relação entre VAN e o território de atuação. Chegando a esse território e tomando como referência a leitura prévia da realidade, emergiram muitos questionamentos, dentre os quais a reflexão de que o instrumento disponível, no caso o SISVAN, não garantia informações confiáveis e representativas da realidade do território. Que caminhos e formas seriam possíveis para se fazer VAN a partir de um olhar interprofissional e intersetorial no contexto da ESF e tendo o território como elemento chave? Quais os elementos de fundo e o papel do nutricionista nessa proposta? Tais questões alimentaram o desejo de sistematizar relatos sobre minha experiência como nutricionista residente, buscando problematizar o fazer da categoria profissional em um contexto de atuação em equipe multiprofissional, no sentido de estabelecer um diálogo com atitudes e práticas de VAN e da possibilidade de contribuir para a reflexão do papel do profissional na efetivação da VAN no âmbito da ESF. Este estudo objetiva problematizar o processo de trabalho do nutricionista residente em Saúde da Família e Comunidade nos territórios da Secretaria Regional V (SR V) na perspectiva da interprofissionalidade e discutir sobre as possibilidades, potencialidades e desafios de atuação com atitudes e práticas de VAN na ESF. Trata-se de um Relato de Experiência e adota como referenciais teórico-metodológicos a “Sistematização de Experiências” (HOLLIDAY, 2006) e os “Círculos de Cultura” (FREIRE, 1987, 1991). O processo da residência propiciou-me verter um olhar para o território não como um mero espaço geográfico adscrito ao serviço, o que, agregado a uma prática interprofissional contribuiu para um entendimento ampliado de VAN que supera uma visão fragmentada que vem sendo construída em torno deste tema nas políticas e serviços de saúde. Permitiu perceber que diagnostico alimentar e nutricional de coletivos pode e deve ser feito no cotidiano dos serviços a partir de processos mais amplos que envolvam os diversos saberes que coexistem no território e junto com a comunidade. A construção do processo de trabalho demonstrou ser uma tarefa desafiadora pois o profissional de saúde precisa ter a capacidade de estabelecer prioridades, orientadas pelas necessidades de saúde da comunidade. É importante que o nutricionista se perceba como potencial sujeito para disparar processos de problematização da realidade alimentar e nutricional do território com a equipe, no sentido de efetivar na agenda um compromisso coletivo com a VAN, saindo de uma perspectiva procedimento-centrada para usuário-centrada. Essa experiência demonstrou além das potencialidades e fragilidades na operacionalização do SISVAN, que ele não deve, dentro dos serviços de saúde, ser entendido como sinônimo ou requisito único para exercer atitudes e práticas de VAN e sim superar visões fragmentadas da saúde e contribuir para a construção de processos de trabalho com base na interprofissionalidade e no território.