Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A prática educativa em saúde como estratégia para discutir as relações de trabalho em uma Unidade de Internação Pediátrica: Relato de Experiência
Mariana Ferreira Arrieche Lopez, Débora Biffi, Larissa Cinara Brunquell Pires, Janaina da Silva Flor

Resumo


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: Segundo Marziale (2001) as práticas educativas possuem um papel importante no desenvolvimento do cuidado de enfermagem, uma vez que um plano de ensino bem estruturado que preencha as necessidades de aprendizagem do cliente pode melhorar efetivamente a qualidade do cuidado, proporcionando bem-estar, maior independência e diminuição dos custos em saúde. Ao longo do trabalho em saúde percebemos algumas lacunas que acabam por interferir nas relações de trabalho e na relação interpessoal dos profissionais. Muitas vezes estas lacunas podem iniciar um processo de resolução a partir do desenvolvimento de práticas educativas em saúde com foco no problema identificado, buscando qualificar não apenas o trabalho em saúde, mas a relação de trabalho que é estabelecida. A partir da observação de uma das autoras que evidenciou a dificuldade na relação de trabalho entre a equipe de enfermagem no local de desenvolvimento da prática educativa que buscamos através desta ferramenta qualificar o processo de trabalho.  Assim o objetivo deste relato de experiência foi discutir qual a relação de trabalho estabelecida em uma equipe de técnicos de enfermagem na Unidade de Internação Pediátrica de um Hospital Universitário de Porto Alegre sob a ótica das participantes utilizando como metodologia uma prática educativa em saúde. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA EDUCATIVA: A prática educativa foi realizada com 7 técnicas de enfermagem do turno da manhã, de uma Unidade de Internação Pediátrica em um Hospital Universitário de Porto Alegre. A prática educativa foi realizada por três enfermeiras mestrandas, sendo que uma das mestrandas está inserida no local de realização da proposta. O processo da prática educativa constituiu- se em três etapas, sendo que a primeira etapa foi denominada Caixa de Resposta, que serviu para identificar os nós críticos do trabalho na unidade em questão. Nesta etapa lançamos a seguinte pergunta norteadora: “O que mais lhe incomoda no seu local de trabalho? Essa pergunta era relacionada ao ambiente de trabalho. Na unidade foi colocada uma caixa denominada “caixa de resposta” que continha a pergunta norteadora. A caixa de resposta permaneceu na unidade durante o período de três dias, somente no turno da manhã, onde as participantes foram depositando suas respostas. A segunda etapa foi denominada como Dinâmica do Espelho, teve como objetivo refletir sobre a importância de cada pessoa no grupo. Para sua realização foi colocado dentro de uma caixa de sapato um espelho. Na tampa desta caixa, tinha a seguinte frase: “Aqui dentro tem a foto de uma pessoa muito importante para o grupo”. Cada membro do grupo deve olhar para dentro da caixa e ao enxergar a imagem de si próprio no espelho, deve falar sobre as características dessa pessoa e em como ela se enxerga no seu local de trabalho. Em nenhum momento a identidade da pessoa refletida no espelho pode ser revelada. Após os integrantes terem realizado a prática educativa, foi feita a seguinte pergunta: “De acordo com as características apresentadas, quem é a pessoa muito importante para o grupo?”. A partir dos nós críticos identificados, elaboramos a terceira etapa.Na terceira etapa denominada como Situações Problemas, as participantes foram divididas em dois grupos, para realizar a discussão de duas situações problemas, elaboradas pelas enfermeiras mestrandas, nessas situações problemas existiam duas perguntas para iniciar as discussões, que foram: “Que problemas você identifica nesta situação?” e “Como esta situação pode ser resolvida?”. As situações problemas abordavam questões como: relações interpessoais no ambiente de trabalho e o trabalho em equipe buscando cruzar as informações abordadas nas demais etapas da prática educativa. EFEITOS ALCANÇADOS: Observamos que na primeira etapa algumas das participantes relataram sua preocupação e receio de expor seus descontentamentos  relacionado ao fato de que umas das enfermeiras mestrandas que desenvolveram este trabalho era a enfermeira responsável pela equipe desta unidade em estudo, mas em nenhum momento deixaram de participar da prática educativa proposta.Para a surpresa das relatoras os problemas que achamos que seriam os mais citados, como falta de equipamentos, dificuldades no desenvolvimento da atenção a saúde das crianças, entre outros não apareceram em nenhum dos relatos. As principais queixas foram referentes às relações interpessoais dentro desta equipe de técnicas de enfermagem, como por exemplo: dificuldade de trabalho em equipe, falta de comunicação, falta de respeito e educação. Durante a segunda etapa as participantes mostraram-se surpresas ao enxergar sua imaginem no espelho e relataram ao término da etapa ser difícil apontar as próprias características negativas dentro do grupo de trabalho. Na terceira etapa notamos que as participantes estavam mais articuladas e conseguindo identificar as situações problemas com as relações de trabalho em que elas estão inseridas, o que possibilitou ampliar a discussão, trazendo os pontos positivos do trabalho em equipe e em como podemos qualificá-lo a partir da mudanças nas relações interpessoais. Precisamos compreender as relações interpessoais nos grupos de trabalho, para entender que elas transcendem o vínculo pessoal assim aponta-se a necessidade de estabelecer relações éticas e de respeito, buscando construir relações maduras, responsáveis e comprometidas. (URBANETTO; CAPELLA, 2004). A prática educativa proporcionou um olhar diferenciado por parte das participantes relacionado ao seu ambiente e postura em relação ao trabalho em saúde, possibilitando a identificação dos fatores positivos e negativos do grupo ao qual estão inseridas e em como algumas atitudes prejudicam as relações interpessoais, assim ao longo das discussões frente aos problemas evidenciados as participantes trouxeram sugestões de melhoria das relações dentro do cenário de atuação possibilitando desenvolver mudanças ao longo do tempo, não apenas mudanças no processo de trabalho como também mudanças individuais de cada participante. RECOMENDAÇÕES: As práticas educativas pressupõem a necessidade de mudança e um novo olhar que redirecione de forma constante as ações desenvolvidas nos ambientes de serviços de saúde. A partir das práticas educativas é possível trabalhar mais próximo da integralidade, identificando problemas apontados pelos profissionais e pela equipe, melhorando a qualidade do trabalho. São nesses momentos que estamos colocando na roda de conversa as compreensões e valores dos atores envolvidos no processo de trabalho e conseguimos discutir e enfrentar os nós críticos que existem no cotidiano do trabalho. Desse modo a sensibilização proporcionada por esse dispositivo sugere uma reflexão para as ações em rede de uma organização, mudanças na prática de atenção a saúde e valorização dos saberes e experiências individuais, transformando o coletivo de trabalho.

  


Palavras-chave


Educação em saúde, Equipe de Enfermagem, Relações Interpessoais.

Referências


MARZIALE, Maria Helena Palucci. As práticas educativas e o cuidado de enfermagem.Rev. Latino-Am. Enfermagem,  Ribeirão Preto ,  v. 9, n. 1, Jan.  2001 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692001000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 03 de outubro de 2013.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692001000100001.

URBANETTO, Janete Souza; CAPELLA, Beatriz Beduschi. Processo de trabalho em enfermagem: gerenciamento das relações interpessoais. Rev. Bras. Enferm, Brasília, v.57, n.4, p:447.452. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n4/v57n4a12.pdf. Acesso em 22 de outubro de 2013.