Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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O USO DE CRACK SUSCITA QUESTÕES DE GÊNERO? UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO PERÍODO 2000 A 2012
Gilney Costa Santos, Regina Helena Simões Barbosa, Marcia Agostini

Resumo


Introdução: Esse estudo apresenta resultados de uma pesquisa de revisão sistemática intitulada “Mulheres e crack: uma análise de gênero sobre a produção científica do período 2000-2012”. Busca-se com ele, ampliar o debate sobre o uso do crack, bem como, a inserção de mulheres na rede do tráfico a partir do enfoque crítico de gênero. Parte-se do pressuposto de que historicamente o crack foi socializado como uma droga “pesada”, agressiva e de alta letalidade, encontrando aí condições favoráveis que (re)produz no imaginário social a lógica de que há drogas de homens e drogas de mulheres. Desse modo, questiona-se: “o uso do crack envolve questões de gênero?”. Objetivo e Método: Trata-se de um estudo que teve como objetivo analisar questões levantadas pela literatura científica nacional, sobre mulheres que usam crack, e/ou envolvidas na rede de tráfico de drogas ilícitas/crack, apontando as implicações para o campo da saúde pública/coletiva. Foi realizada uma revisão da literatura, com recorte temporal no período 2000-2012. Foram analisados textos completos em português (monografias, dissertações e teses) recuperados na Biblioteca Virtual de Saúde Pública (BVS) e no acervo da Biblioteca Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da ENSP/FIOCRUZ, utilizando-se descritores “mulheres and crack”; “mulheres and tráfico”; “gênero and drogas ilícitas” e “mulheres and drogas ilícitas”, foram recuperados 24 textos. Após leitura exaustiva, foram excluídos 16 estudos que tratavam de drogas licitas, com população de adolescentes ou adultos do sexo masculino. Ao final, 8 textos compuseram o escopo da análise, sendo problematizados qualitativamente a partir do enfoque crítico das teorias de gênero. Resultados: Os trabalhos discutem (a) práticas de autocuidado; (b) vulnerabilidade frente ao HIV/AIDS; (c) fatores condicionantes da entrada e saída das mulheres no tráfico; (d) precarização das condições de trabalho e vida na rede de tráfico/crack. Apontam que mulheres tendem a valer-se do corpo como moeda de troca para aquisição da droga/crack, enquanto homens envolvem-se com/no tráfico, reproduzindo as expectativas sociais historicamente construídas sobre os papéis de homens e mulheres mesmo em circuitos “marginais”. Considerações finais: No campo da saúde publica/coletiva, considera-se necessário problematizar estratégias de enfrentamento ao uso de drogas ilícitas/crack, a partir do enfoque crítico de gênero, afim de que as especificidades dos/das usuários/usuárias na relação com a droga sejam incorporadas em todas as suas complexas dimensões.

Palavras-chave


Crack; gênero; mulheres

Referências


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